quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Vencemos o dragão da inflação?

Segura as pontas São Jorge!
O ano de 2017 trouxe uma ótima notícia para os brasileiros. A inflação brasileira, medida pelo IPCA encerrou o ano com variação 2,95%. O resultado de 2017 foi espetacular. Aparentemente o dragão da inflação foi domado. Mas, como aprendemos a duras penas, escolhas ruins na área econômica podem ressuscitar esse flagelo.

Regime de Metas para a Inflação

No Brasil vigora o chamado Regime de Metas para a Inflação. Segundo esse modelo, o Banco Central do Brasil (BCB) se compromete publicamente a garantir que a inflação efetiva esteja dentro de um intervalo de tolerância, definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O CMN, por sua vez, determinou que a meta de inflação para o ano de 2017 fosse de +4,50%, com tolerância de 1,50%% (para cima ou para baixo). Portanto, a inflação brasileira deveria se situar no intervalo de +3,00% a +6,00%. Ou seja, a inflação brasileira em 2017 ficou um pouco abaixo do intervalo de tolerância do sistema de metas para a inflação.

Dessa forma, toda vez que a inflação projetada for superior à meta, cabe ao BCB utilizar seu arsenal de medidas para trazer a inflação novamente para a meta. O contrário também é verdadeiro, se a inflação projetada para o período estiver abaixo da meta, cabe ao BCB estimular a atividade econômica, de modo a trazer a inflação para a meta.

O BCB dispõe de várias ferramentas para acelerar ou reduzir o ritmo da inflação. A mais eficiente é a definição da taxa básica de juros, a taxa Selic, que é a base dos juros na economia brasileira. Quanto maior for a taxa Selic, maior serão os juros dos empréstimos às pessoas e às empresas, reduzindo dessa forma a atividade econômica e, como consequência, o ritmo de aumento dos preços. Para saber um pouco mais sobre o Regime de Metas para a Inflação, clique aqui.

Em 2017 tivemos inflação comparável a países desenvolvidos!

Para exemplificar o quão eficiente foi o trabalho do BCB ao longo de 2017, apresentamos abaixo uma relação dos índices de inflação do ano de 2017 de economias em estágio de desenvolvimento semelhante ao Brasil, de acordo com dados obtidos no site da OCDE. Para facilitar a comparação, ordenamos os países de acordo com a magnitude da inflação acumulada em 2016.
  • Turquia - 11,92%;
  • Colômbia - 4,09%;
  • México - 6,77%;
  • Chile - 2,27%.
Ou seja, quando comparamos o Brasil com outras economias em desenvolvimento, vemos que nosso país encontra-se entre aquelas que apresentaram a menor variação dos preços em 2017.

Quando analisamos o histórico recente da inflação, vemos que, felizmente, o ano de 2017 foi uma exceção. Por isso devemos manter a vigilância. Abaixo relacionamos a variação do IPCA entre 1999 (ano no qual o regime de metas foi estabelecido) e o ano de 2017. Para facilitar, vamos marcar em vermelho os anos nos quais o país teve uma inflação igual ou superior à meta. Em azul, marcaremos o ano em que a inflação ficou abaixo da meta:
  • 1999 - 8,94% (meta de 8,00%);
  • 2000 - 5,97% (meta de 6,00%);
  • 2001 - 7,67% (meta de 4,00%);
  • 2002 - 12,53% (meta de 3,50%);
  • 2003 - 8,74% (meta de 4,00%);
  • 2004 - 7,60% (meta de 5,50%);
  • 2005 - 5,69% (meta de 4,50%);
  • 2006 - 3,15% (meta de 4,50%);
  • 2007 - 4,46% (meta de 4,50%);
  • 2008 - 5,90% (meta de 4,50%);
  • 2009 - 4,31% (meta de 4,50%);
  • 2010 - 5,91% (meta de 4,50%);
  • 2011 - 6,50% (meta de 4,50%);
  • 2012 - 5,84% (meta de 4,50%);
  • 2013 - 5,91% (meta de 4,50%);
  • 2014 - 6,40% (meta de 4,50%);
  • 2015 - 10,67% (meta de 4,50%);
  • 2016 - 6,29% (meta de 4,50%);
  • 2017 - 2,95% (meta de 4,50%).

Se não tratar o paciente, ele morre!

Uma inflação persistentemente alta, tal como a apresentada no Brasil até 2016 é como uma febre de 38,50º. Não mata imediatamente, mas vai minando, pouco a pouco, a saúde financeira do país. Com a inflação persistente, há a permanente desvalorização do Real, com a consequente elevação do preço dos produtos e serviços importados, há a diminuição dos investimentos no setor produtivo, que tem maior dificuldade para orçar seus custos e receitas no longo prazo, há a elevação da taxa nominal de juros e consequentemente a elevação da especulação financeira, etc.

Nas próximas semanas iremos republicar uma série especial sobre a inflação. Explicaremos o que é a inflação, como são calculados os índices de inflação e os efeitos da inflação em uma economia. Aguardem.

Artigo escrito por Flávio Girão Guimarães.