sexta-feira, 11 de março de 2011

Operando com LTN - Letras do Tesouro Nacional

Recebemos em nossa página Fale Conosco um estudo de caso do amigo KWN, sobre operações com LTN - Letras do Tesouro Nacional. Tal assunto pode interessar aos atuais e potenciais investidores do Tesouro Direto. Fica apenas o alerta que o assunto foi  tratado no início de março. Portanto, as taxas, prazos e rentabilidades apresentadas diferem das taxas e rentabilidades dos títulos públicos do Tesouro Direto hoje. Não obstante, a análise permanece válida.

"Possuo investimento em Tesouro Direto. São quatro lotes de LTN, um com vencimento em 01/01/2012 (LTN010112) e três com vencimentos em 01/01/2013 (LTN010113). Como as taxas de juros estão subindo, vale a pena vender alguns destes títulos, mesmo pagando uma alíquota de imposto de renda maior, e recomprar novos títulos (e pagar nova taxa de compra) para garantir um rendimento maior por um tempo maior (por exemplo, para 2014, 2015,...)? Trabalho com uma corretora que não cobra taxa de custódia, pago apenas a taxa anual para a CBLC.

 Não sei se as taxas vão continuar subindo, por isso, se eu comprar agora vou garantir um rendimento maior. 



Dos títulos que possuo, os LTN010112 terão 590 dias decorridos da data de compra até a data do vencimento, ou seja, pagarei no mínimo 17,5% de IR. Os LTN010113, todos são títulos acima de 720 dias, ou seja pagarei 15% de IR se eu ficar com eles até final. 

Meu raciocínio está correto? Informo também que não necessito dos valores investidos em médio prazo (4/8 anos). 

Obrigado pela atenção, 

Atenciosamente 

KWN"


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Caro KWN,


Sempre que falamos de investimento temos que ter em mente algumas coisas:

a) horizonte tempo, ou o tempo que você dispomos para investir;

b) a propensão ao risco, ou o quanto estamos dispostos a aceitar variações no valor dos nossos investimentos (inclusive variações negativas); e

c) o valor que temos disponível para aplicar.

Seu relato já me deu pistas que me permitem responder às três perguntas acima. Se você já investe atualmente em Letras do Tesouro Nacional (LTN), posso crer que você tem uma boa propensão a aceitar riscos maiores, pois, por se tratar de um título prefixado, sem pagamentos intermediários (cupons), o preço da LTN (ou o seu PU) costuma variar bastante.

Você também relatou que seu horizonte de tempo é superior a quatro anos. No Brasil, tal prazo é considerado longo prazo. Para você, que está disposto a aguardar tanto tempo isso é ótimo. Para o Brasil, ainda acostumado com a cultura do overnight e do DI, isso é péssimo.

Por fim, quando você descreve que quer “trocar” os títulos, suponho que você neste momento não possui recursos adicionais além dos títulos da sua carteira (uma LTN 2012 e três LTNs 2013).

Bem, a LTN é um título que paga bem àqueles que acreditam que os juros pagos pelo Tesouro Nacional por esse título até a data do vencimento são maiores que os juros que vão ocorrer de fato. Em condições normais, a LTN paga um prêmio aos investidores pelo risco de carregar esse título durante um longo período de tempo.

A LTN é um título público relativamente simples e, ao mesmo tempo, arriscado. O motivo da simplicidade e do risco embutido na LTN se deve ao fato do título em questão ser prefixado, sem pagamentos intermediários (chamados cupons). Portanto, ao comprar uma LTN hoje, você sabe exatamente quanto receberá no vencimento, ou seja, R$ 1.000,00 por cada título. Por outro lado, até o vencimento do título, o preço unitário de cada LTN (ou o seu PU) varia ao sabor das variações da curva de juros. Aumentos na curva de juros levam a quedas do PU da LTN. O contrário também é verdade, quedas na curva de juros elevam o PU das LTN.

Entretanto, estimar a taxa futura de juros está muito além da proposta do site e da nossa capacidade. Caso você queira consultar a opinião dos oráculos da economia brasileira acerca do futuro da Taxa Selic, sugiro uma visitinha na página do Banco Central do Brasil, http://www.bcb.gov.br/?FOCUS.

Abaixo, apresento um quadro com as principais informações sobre as LTN disponíveis no Tesouro Direto. Os dados foram coletados em 11 de março de 2011.


Com base no quadro acima, vemos que o prêmio das LTN aumenta um pouco entre 2012 e 2013 e, a partir daí, mantém-se intalterado. Como disse anteriormente, qualquer coisa acima de três anos no Brasil é considerado longo prazo e, nesses casos, a curva de juros costuma ficar reta (ou flat no jargão de mercado). Ou seja, você não ganha prêmio por comprar títulos com vencimentos mais longos.

Se o seu horizonte de investimento é superior a quatro anos e a sua propensão ao risco permite alguns “solavancos” no meio do caminho, a troca dos títulos no sentido de alongar o vencimento de seu portfólio terá como efeito prático garantir o prêmio acima até 2015. Entretanto, seu ganho nos primeiro anos será praticamente o mesmo da sua carteira atual.

Quanto aos custos de transação, lembre-se que independentemente do valor cobrado pela corretora (zero no seu caso), há uma cobrança de 0,10% sobre o valor da transação e 0,30% ao ano, recolhidos em favor da Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia – CBLC.

Você também bem lembrou a cobrança do Imposto de Renda. Os rendimentos das aplicações no Tesouro Direto, bem como qualquer rendimento em renda fixa (inclusive fundos de investimento), são tributados com alíquotas decrescentes, de acordo com o prazo da aplicação:

22,50% para aplicações com prazo inferior a seis meses;
20,00% para aplicações com prazo entre seis meses e um ano;
17,50% para aplicações com prazo superior a um ano e inferior a dois anos; e
15,00% para aplicações com prazo superior a dois anos.


Ou seja, na hora do resgate, são feitas algumas contas:


  • qual foi o rendimento no período;
  • por quanto tempo o título foi adquirido (data do resgate menos data da aquisição do título);
  • por fim, multiplica-se o rendimento do período pela alíquota correspondente ao prazo.
Portanto, na hora de fazer as contas sobre o seu ganho na troca, exclua do diferencial de rentabilidade entre os títulos 0,10%, que será cobrado no momento da transação, e o diferencial da alíquota de IR sobre os rendimentos.

Atenciosamente,

ABC do Dinheiro

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