quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Revista da Nova Bolsa: Alta Volatilidade, Tensão e Atenção no Mercado de Ações

Revista da Nova Bolsa nº 11 2011
Caros leitores. Abaixo apresentamos um texto publicado na “Revista da Nova Bolsa: uma publicação da Bm&fBovespa”. Trata-se de um texto longo, mas bastante oportuno neste momento de grandes oscilações do mercado financeiro (bolsa de valores, moedas, juros etc.). Respirem fundo. Boa leitura.

Alta Volatilidade, Tensão e Atenção no Mercado de Ações

Em fases de alta volatilidade, o investidor deve seguir os conselhos dos maiores aplicadores em ações do mundo, estudando o mercado a fundo e, sobretudo, atuando com base na sua estratégia de longo prazo

Por: Fabio Gallo Garcia*

A Bolsa está barata! O momento de entrar é agora! Compre que vale a pena! São três frases curtas e prontas para consumo. Como resistir?

Mas aí é que mora o perigo! Porque quanto maior a volatilidade do mercado, maior deve ser a atenção
no estabelecimento de sua estratégia.

Investir nos mercados em períodos de alta volatilidade exige um grau de conhecimento e dedicação maior que em outros momentos. Afinal, maior volatilidade significa maior grau de risco. Por isso que se diz que esses períodos são para profissionais da área de mercado de capitais.

De maneira geral, admitimos que a volatilidade é a amplitude de mudança do preço no tempo. Em outros termos, uma grande alteração de preço em curto período de tempo é considerada “alta volatilidade”.

Isso significa, também, grande potencial de retorno, pois os preços podem subir substancialmente. De maneira mais simples, podemos dizer que quando os investidores estão nervosos, alterando as suas posições em alta velocidade, temos um mercado com alta volatilidade. Os investidores estão incertos quanto à direção futura do mercado de ações e/ou sobre a economia como um todo e alteram suas posições com base em qualquer nova notícia. Na sua raiz, está a eficiência informacional do mercado.

A assimetria de informações somada a aspectos comportamentais, como exemplos aversão à perda, autoconfiança excessiva, otimismo, reação às novidades do mercado, efeito ancoragem, efeito disjunção, ilusão monetária, contabilidade mental, entre outros, podem trazer um resultado devastador para o investidor e para o mercado.

Aplicar em ambiente de alta volatilidade significa que estamos buscando uma recompensa, e essa palavra é muito adequada justamente pelo fato de estarmos correndo alto grau de risco, assim queremos um retorno que seja uma compensação pela grande exposição à perda. Nessa hora, podemos cometer as maiores bobagens, como comprar na alta e vender na baixa, sair da posição quando os preços já estão no fundo do poço e, pior, voltarmos para a posição de alta quando os preços estão prestes a cair novamente.

Quando o ambiente dos mercados é de alta volatilidade, podemos segmentar, de maneira simples e extremada, os investidores em dois tipos: aqueles que podemos denominar de investidores médios, que são pessoas sem grandes conhecimentos sobre investimentos e não têm tempo para se dedicar às análises sobre empresas e mercados; e os investidores, profissionais ou não, que possuem profundos conhecimentos de mercado e tempo para se dedicar às operações.

Este último tipo de investidor, dada a sua habilidade, tem mostrado mudança de atitude. Notícias dos grandes periódicos dão conta que as operações Day Trade têm crescido substancialmente, dados apontam crescimento de 15% neste ano, comparativamente a 2010. Casos de sucesso de investidores com esse perfil de atuação são citados, sendo apresentados ganhos de 20% em apenas dois dias. Os casos de fracasso não aparecem facilmente, mas ocorrem.

Investidor com esse perfil é denominado especulador. Antes de tudo, é um investidor que gosta de risco. Podemos apelidá-lo de James Bond, porque, a exemplo do personagem do cinema, ele tem de ser frio, calculista, que decide de maneira rápida e certeira. Mas, a despeito desse apetite ao risco, investir dessa maneira requer conhecimento de mercado, muita disciplina, tempo disponível e timing.

O especulador precisa de conhecimento técnico, saber observar os acontecimentos de mercado para poder tomar decisões acertadas; necessita de disciplina porque isso exige organização, ordem, sistematização. O tempo é fator importante porque dele é exigido ler muito, realizar análises, buscar informações de mercado. Timing é o senso de agir no momento certo e isso somente se ganha com a experiência. Claro que tecnologia é algo essencial.

Quem opera no mercado com esse perfil não dá muita atenção para a análise fundamentalista, sua atuação é baseada em notícias de mercado e análise técnica, os gráficos são suas fontes inspiradoras.

Quanto aos investidores médios, o grande erro que muitos podem cometer é o de serem influenciados pelas flutuações de preços e abandonarem as suas estratégias de longo prazo. Se bem que muitos investidores com esse perfil, principalmente devido à falta de conhecimento, acabam não tendo estratégia alguma para seus investimentos. A maioria sequer mantém uma carteira diversificada. Adoram dicas de bastidor e alteram suas posições com base em qualquer notícia. A chance de incorrerem em perdas é muito grande.

O prejuízo trazido por esse tipo de procedimento não é somente do investidor, mas de todo o mercado de capitais. Pois, uma vez o investidor tendo passado pela experiência de perdas substanciais, as probabilidades de ele voltar a investir em renda variável são pequenas ou, no mínimo, irá demorar muito para retornar. Alguns dados de mercado podem sustentar essa afirmação. Uma das grandes aspirações dos agentes do mercado de capitais foi a de incentivar as pessoas físicas na direção de geração de poupança de longo prazo por meio de sua participação na Bolsa. No ano de 2000, as pessoas físicas eram responsáveis por 19% do total de operações. Em agosto de 2010 esse porcentual atingiu 27% e hoje sua participação está na faixa de 22%.

No entanto, uma abordagem muita adequada e diferenciada para esse perfil de investidor deveria ser a filosofia de investimentos conhecida como “Investimento de Valor”, que tem uma perspectiva de longo prazo. Essa abordagem possui duas características que a definem e distinguem de outras filosofias de investimentos: disciplina e paciência. Algumas vezes, é descrita de maneira superficial, pois usualmente o investidor de valor coloca seu dinheiro em títulos que não são populares ou não são amplamente acompanhados pelos outros agentes de mercado.

O conceito de “investimento de valor” lida fortemente com o de “valor intrínseco”, “margem de segurança” e “análise fundamental”. Com bases neles, constrói-se sua estrutura de análise e políticas de investimentos. Esses conceitos são tratados em literatura clássica, em estudo dos economistas Benjamin Graham e David Dodd publicados em 1934, e têm como um de seus mais entusiastas o megainvestidor Warren Buffett.

Alguns dos ditos de Warren Buffett valem a pena serem colocados para apresentar sua filosofia de investimentos; comecemos pelas suas duas regras básicas:
  • Regra 1: nunca perca dinheiro;
  • Regra 2: nunca esqueça a regra 1.
Outras duas frases mostram bem o seu pensamento: “Dou grande importância à certeza. Toda a noção de fator de risco não faz o menor sentido para mim. Não se faz negócio quando o risco é significativo. Mas não é arriscado comprar títulos por uma fração do seu valor real.” e “O risco está em não saber o que você está fazendo.”

Independentemente de qualquer outra coisa, o investidor médio deve mirar no longo prazo e entender que é essencial a estruturação de uma estratégia de investimentos. Outro erro muito comum cometido por esse tipo de agente é que ele leva algumas máximas de finanças ao pé da letra. Exemplo é aquela que diz que sempre devemos realizar o prejuízo, esquecendo que isso é algo feito dentro de uma estratégia. Não podemos confundir prejuízo econômico com prejuízo financeiro. Somente o segundo é que sentimos no bolso e é irrecuperável.

Algumas dicas são importantes para as pessoas lembrarem na hora do investimento:
  • Prepare seu orçamento familiar.
  • Adquira conhecimentos sobre o mercado.
  • Investigue. Não jogue o seu dinheiro no escuro.
  • Desconfie de dicas muito fáceis.
  • Desconfie de altas muito rápidas.
  • Treine antes de entrar no mercado real.
  • Comece aplicando pouco dinheiro.
  • No mercado de ações, seja um investidor 24 horas.
  • Não se apaixone pelo seu investimento.
  • Tenha paciência.
  • Evite a opinião da massa.
  • Não mantenha posições perdedoras.
  • Cuidado com o tipo de ordem que você dá ao seu corretor.
  • Estipule um patamar máximo de perda.
Lembre-se que a etimologia da palavra volátil tem como um dos seus significados a propriedade de certas substâncias sólidas ou líquidas de se transformar em vapor.

Assim, cuidado para não transformar o seu dinheiro em vapor.

Prudência é uma palavra que sempre deve ser considerada por todos. Assim, como um alerta final, recorro a mais uma das frases de Warren Buffett: “Não temos a menor ideia de quanto tempo as altas vão durar nem sabemos o que mudará as atitudes do governo, dos emprestadores e dos compradores que as alimentam. Sabemos apenas que, quanto menor a prudência alheia na condução de seus assuntos, maior deve ser a nossa.”

*FABIO GALLO É PROFESSOR DE FINANÇAS DA PUC-SP E FGV-EAESP, RESPONSÁVEL PELA COLUNA “SEU DINHEIRO” NO JORNAL O ESTADO DE S. PAULO E RÁDIO ESTADÃO ESPN.