No dia 7 de novembro, o jornal Valor Econômico trouxe mais um brilhante artigo do economista Marcelo d'Agosto. Desta vez, além de uma aula expressa de história financeira, o autor alerta para a necessidade de diversificação de investimentos, visando não só a redução dos riscos, como para alcançarmos uma maior rentabilidade nesse novo cenário de taxas reais de juros em torno de 2% para investimentos de renda fixa. Boa leitura.
Risco e retorno nas aplicações financeiras
Por Marcelo d’Agosto, para o Valor Econômico,
edição de 7 de novembro de 2012, página D2
No mundo inteiro, transmitir aos investidores o
conceito de que a diversificação da carteira contribui para reduzir o risco e
pode aumentar o retomo no longo prazo é sempre um desafio para os profissionais
de finanças. O investidor, de qualquer nacionalidade, fica muito desconfortável
com as oscilações de curto prazo e exige rentabilidade, segurança e liquidez
para as aplicações.
No Brasil, devido ao longo histórico de
instabilidade financeira, juros altos e inflação elevada, as discussões
conceituais sobre os benefícios da diversificação sempre tiveram pouco sentido
prático. As aplicações, obrigatoriamente, deveriam prever a possiblidade de
resgates a qualquer momento e precisavam estar vinculadas às taxas de juros do
mercado interfinanceiro.
A explicação estava na percepção de que o governo
brasileiro, para financiar o orçamento desequilibrado, rolar uma dívida pública
crescente, administrar eventuais déficits no balanço de pagamentos e evitar uma
crise financeira de grandes proporções, tinha que garantir remuneração elevada
aos bancos. Os investidores pegavam carona nesse ambiente de insegurança, mas
com o cuidado de preservar a liquidez das aplicações para tentar evitar os
prejuízos com desvalorizações cambiais, confiscos ou congelamentos.
Os investimentos em bolsa eram vistos como
oportunidades apenas para aqueles que poderiam ter algum tipo de informação
exclusiva. Compensaria apenas se fosse possível lucrar com as consequências das
eventuais medidas macroeconômicas, tomadas como tentativa de domar a inflação.
A diversificação da carteira era vista como sinônimo de especulação, restrita a
poucos bem informados.
Os números da economia davam suporte à atitude
reticente dos investidores. Na década de 70 a inflação média foi de 33% ao ano,
patamar semelhante ao dos juros das operações de curto prazo. Nos anos 80 e 90,
a inflação média anual saltou para 265% e 270%, respectivamente. Já os juros
das aplicações interfinanceiras subiram ainda mais, para 280% ao ano na década
de 80 e 340% ao ano durante o período entre 1990 e 1999.
O rendimento acima da inflação – chamado de juro
real – dos investimentos vinculados aos juros dos Certificados de Depósitos
Interfinanceiros (CDI) atingiu o ponto máximo nos anos 90, quando foi de 18% ao
ano. Ainda que o Imposto de Renda (IR) sobre os rendimentos das aplicações
tenha consumido boa parte desse ganho real, os lucros foram excelentes.
Nos dez anos entre 2000 e 2009 houve a queda
acentuada da inflação média anual, para 6,6%. No entanto, apesar da maior
estabilidade financeira, a rentabilidade das aplicações de curto prazo
continuou proporcionalmente elevada, ficando na média de 16% ao ano. O ambiente
financeiro continuou inibindo a diversificação.
Atualmente, com a inflação no patamar de 5,5% ao
ano e os juros de curto prazo, balizados pela taxa Selic, em 7,25% ao ano,
houve uma mudança de comportamento. Os investidores passaram a buscar o
alongamento do prazo dos investimentos de renda fixa e a diversificação passou
a ser fundamental para conseguir aumentar os ganhos, apesar dos riscos.
A remuneração da caderneta de poupança huoje é de
705 da taxa Selic, equivalente a 5,08% ao ano, livre de IR É o piso para as
aplicações de renda fixa e, ainda assim, vem atraindo volumes cada vez maiores.
Mas existem alternativas.
O Tesouro Direto, o sistema de negociação de
títulos públicos via internet, é uma delas. O investidor pode comprar diversos
tipos de papéis e as simulações da rentabilidade podem ser feitas com a
calculadora disponível no próprio site.
A tarifa de negociação sobre o montante da
transação, a taxa de custódia dos títulos e o impacto do recolhimento do
Imposto de Renda sobre o rendimento dos papéis no vencimento são padronizados e
já estão incluídos nos cálculos. Mas é preciso estimar a taxa de administração
da instituição financeira intermediadora, por que é um valor livremente
estabelecido por cada banco ou corretora.
Considerando que a taxa é de 0,3% ao ano e partindo
da suposição de que a Selic continuará em 7,25% ao ano e a inflação ficará estável
em 5.5% ao ano, é possível comparar o retorno líquido dos diferentes papéis
disponíveis. No próprio site do Tesouro há uma lista com os valores cobrados
por cada instituição.
De acordo com essas premissas, a remuneração
esperada para a Letra Financeira do Tesouro (LFN), corrigida pela taxa básica
de juros, com vencimento em março de 2017 e taxa de mercado equivalente a Selic
menos 0,1% ao ano é de 5.64% ao ano após os impostos. Mais do que a poupança.
Para a Letra do Tesouro Nacional (LTN), papel
prefixado e com vencimento em janeiro de 2016, a expectativa de rentabilidade
líquida é de 6,51% ao ano. E a Nota do Tesouro nacional da série B Principal
(NTN-B Principal), corrigida pelo IPCA, possui rentabilidade esperada de 6,12%
ao ano.
Prever o comportamento da Selic e da inflação para
os próximos três anos é tarefa quase impossível. No entanto, considerando que a
margem de erro das estimativas é muito mais baixa do que já foi no passado, a
relação entre as possiblidade de ganhos adicionais e o risco de perdas
inesperadas parece bem favorável.
Marcelo d’Agosto é economista especializado em
administração de investimentos com mais de 20 anos de experiência no mercado
financeiro.
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