Diz o ditado popular que não se deve deixar a raposa cuidar do galinheiro. Por mais bem-intencionada que seja a raposa, seu instinto uma hora falará mais alto e, quando isso acontecer, pobre das galinhas. Quanto o assunto é finanças pessoais, porém, a maioria de nós costuma deixar a raposa cuidando do nosso galinheiro. Explico: deixamos a cargo do gerente do banco o destino de nosso precioso dinheirinho.
Gerente de banco trabalha para o banco, não pra você
O gerente do banco, lembremos, trabalha para o banco e não para nós. Ou seja, ao ofertar produtos e serviços, nem sempre o gerente pensará naquilo que é mais adequado para você. Seus conselhos e sua energia serão direcionados para a distribuição e venda dos produtos mais rentáveis para o banco.
Tanto isso é verdade que os bancos incentivam a venda de determinados produtos através do estabelecimento de metas de distribuição ou através do pagamento de comissões diferenciadas, a depender do produto. Se o produto é rentável para o banco, aumenta-se a meta de venda e a comissão paga ao gerente que conseguir distribuir. Se o produto é pouco rentável, não há metas e o comissionamento é bem baixinho, ou sequer existe.
Fenômenos como esse são conhecidos na literatura econômica como “conflito de interesse”, que ocorre quando o interesse de duas ou mais partes envolvidas em uma negociação não são convergentes. O que um quer não necessariamente é o melhor para a outra parte e vice-versa.
Título de (des)capitalização e VGBL não são investimentos
Quer um exemplo prático? Quem nunca recebeu a oferta de um título de (des)capitalização ou a aquisição de um VGBL quando pediu ao gerente do banco o aconselhamento de onde investir? Pois saibam que tanto o título de (des)capitalização como o VGBL não são investimentos e, na minha opinião, sequer deveriam ser oferecidos em agências bancárias, já que se tratam uma espécie de loteria e um seguro de vida, respectivamente.
Mais ainda: os títulos de (des)capitalização e o VGBL tem regras complexas, tributação distinta e funcionamento pouco intuitivo. A venda desses produtos requer longas explicações para se delimitar o que são os produtos, como funcionam, o que eles proporcionam, os riscos envolvidos em sua compra, os custos, a tributação etc. Tais explicações, porém, dificilmente são fornecidas por um gerente de banco, que quando muito se dispõe a tirar eventuais dúvidas sobre os produtos.
O que fazer?
Portanto, se você quer investir melhor é necessário contar com alguém que de fato esteja do seu lado, tal como um consultor financeiro pessoal, ou então deixar a preguiça de lado e aprender um pouco mais sobre finanças pessoais. E se essa for a sua vontade, estaremos prontos para te ajudar.
Caso contrário, desejo sorte para as suas galinhas, digo, seu pobre dinheirinho.
Artigo escrito por Flávio Girão Guimarães.