segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Vida e morte de um título público: Tesouro Prefixado 2017


O ano de 2017 começou com o vencimento de um título público. Trata-se do 'Tesouro Prefixado' com vencimento em 01/01/2017 (ou LTN 0101207 para os iniciados). Neste artigo, vamos analisar como tal título se comportou, desde o seu lançamento, em janeiro de 2013. Assim, será possível ao leitor entender um pouco melhor o funcionamento de um 'Tesouro Prefixado', desde seu lançamento (nascimento), até seu vencimento (morte).

Como funciona um Tesouro Prefixado?

Para começar, o básico. O 'Tesouro Prefixado', como o próprio nome indica, é um título cujo valor, no resgate, é prefixado em R$ 1.000,00. Tal título não tem como característica o pagamento de juros semestrais (ou cupons). Ou seja, ao comprar o título, o investidor pode revendê-lo no mercado secundário, antes de seu vencimento, ou então aguardar até o vencimento do título, quando então a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) fará o resgate do título. Para entender um pouco mais do funcionamento do Tesouro Prefixado, leia nosso artigo abaixo:


O 'Tesouro Prefixado' que iremos analisar no presente artigo venceu em 1º de janeiro de 2017. Por essa razão, tal título é apresentado na plataforma do Tesouro Direto como 'Tesouro Prefixado 2017'.

Rentabilidade do 'Tesouro Prefixado 2017'

O lançamento do 'Tesouro Prefixado 2017' aconteceu em 14 de janeiro de 2013. Neste dia, a STN vendeu, através de leilão, as LTN para o primeiro grupo de investidores. Essa operação é chamada de oferta primária. A partir de então e até o vencimento, toda é qualquer negociação é conhecida como oferta secundária (ou mercado secundário). No seu lançamento, o 'Tesouro Prefixado 2017' rendia 8,64% ao ano, coincidente a menor taxa apresentada pelo papel, para azar dos investidores que participaram da oferta primária.

A partir de então, a rentabilidade do 'Tesouro Prefixado 2017' passou a ser determinada pelas condições de mercado e pelos juros vigentes na economia brasileira. Para ilustrar a rentabilidade do título ao longo de sua vida, preparamos um gráfico com a evolução de seu prêmio, do lançamento ao vencimento:


Abaixo apresentamos a evolução do 'Tesouro Prefixado 2017', para os investidores que adquiriram o título na oferta primária e que carregaram os títulos até o vencimento. Iremos comparar a evolução do 'Tesouro Prefixado 2017' com o CDI, que é por excelência o índice de referência do mercado de renda fixa no Brasil.


Para facilitar a comparação, nós simulamos a variação de dois portfólios com valor igual a 100 em 14 de janeiro de 2013 (data de lançamento do 'Tesouro Prefixado 2017'). O primeiro portfólio composto exclusivamente de 'Tesouro Prefixado 2017' e o segundo composto por títulos indexados ao CDI. A partir de então, nossos portfólios passaram a variar de acordo com a evolução dos preços, tanto do 'Tesouro Prefixado 2017' como do CDI. No fim das contas, o investidor que investiu no 'Tesouro Prefixado 2017' no leilão primário terminou com uma rentabilidade acumulada até o vencimento do título de 38,99%. Nada mal. Porém, o portfólio alternativo, formado exclusivamente de CDI, rendeu gordos 54,26% no mesmo período.

Porém, como vimos anteriormente, as taxas do 'Tesouro Prefixado' variam de acordo com as condições macroeconômicas do país e especialmente com as taxas de juros de mercado. Durante sua vida, o 'Tesouro Prefixado 2017' alcançou a taxa máxima 29/09/2015 (16,35% ao ano). Abaixo, apresentamos a evolução do 'Tesouro Prefixado 2017', em comparação com o CDI, para os sortudos investidores que adquiriram o título nessa data, até o vencimento, em 01/01/2017:


Ou seja, o investidor que adquiriu O 'Tesouro Prefixado 2017' 29/09/2015, e carregou o título até seu vencimento (1º de janeiro de 2017), obteve uma rentabilidade de 20,71% no período. Já o investidor que no mesmo período carregou títulos indexados ao CDI, obteve rentabilidade de 17,83%.

Risco do 'Tesouro Prefixado 2017'

Por ser um título prefixado, o preço do 'Tesouro Prefixado' no vencimento não é alterado, qualquer que seja o nível das taxas de juros praticados no mercado. Porém, alterações na curva de juros impactam no preço corrente do título. Aumentos nos juros praticados no mercado tem como efeito uma diminuição no valor dos 'Tesouro Prefixado'. Por outro lado, queda nos juros de mercado tem efeito contrário, aumentando o preço dos títulos prefixados, como os 'Tesouro Prefixado'.

Quanto mais distantes do vencimento, mais pronunciadas serão as variações de preços de um título prefixado decorrentes de alterações nos juros. Um efeito já explicado aqui mesmo no blog no artigo Tesouro Direto: títulos longos vs. títulos curtos. E nosso 'Tesouro Prefixado 2017' não fugiu à regra. Na figura abaixo apresentamos o desvio-padrão dos retornos de nosso 'Tesouro Prefixado'. Quanto maior o desvio-padrão, maior a oscilação do retorno em relação à sua média, ou seja, maior o risco de mercado.

Como pode ser visto, o desvio-padrão dos retornos não se comporta de forma linear, pois é diretamente correlacionado com o desvio-padrão dos preços da LTN 01012015. Já os preços das LTN está diretamente correlacionado às taxas de juros de mercado e ao prazo para o vencimento. Porém, podemos perceber a tendência de queda do risco, na medida que a LTN 01012015 se aproxima de seu vencimento. A partir de meados de 2014, seis meses antes de seu vencimento, os retornos da LTN 01012015 apresentaram desvio-padrão muito baixos, semelhantes aos percebidos pelos detentores de títulos posfixados, como a LFT 07032015, também apresentada na figura acima.

Porém, o investidor que adquire uma LTN e decide mantê-la até o vencimento, deve relativizar o desvio-padrão dos retornos. Já que o preço do título no momento da aquisição irá determinar o retorno do investidor. O que torna a LTN um título excepcional para quem tem um compromisso financeiro em uma data futura, visto que o valor da LTN será R$ 1 mil no vencimento, faça chuva, faça sol. Já o investidor que deseja negociar a LTN antes de seu vencimento, ficará exposta às variações e humores do mercado, como vimos acima. 


Conclusão

O 'Tesouro Prefixado 2017' surgiu em janeiro de 2013. No seu lançamento, o preço de cada título era de R$ 719,46. Em 1º de janeiro de 2017, no vencimento, tal título valia exatos R$ 1 mil, gerando um retorno de 38,99% no período (8,69% ao ano em média*), coincidentemente o pior retorno para o título.

O melhor retorno do 'Tesouro Prefixado 2017' aconteceu em 29/09/2015. Quem comprou o título nesse dia teve retorno de 16,31% ao ano*.

Os 'Tesouro Prefixado', tem valor no vencimento igual a R$ 1 mil. O 'Tesouro Prefixado 2017' não é exceção à regra. Por essa razão, tais títulos são indicados para os investidores que tem um compromisso financeiro certo e futuro, em data próxima ao vencimento do título, tal como o pagamento das chaves de um apartamento, ou pagamento das mensalidades da faculdade de um filho etc. 

Os preços dos 'Tesouro Prefixados' oscilam ao sabor dos juros vigentes no país. Quanto maior os juros, menor o preço dos 'Tesouro Prefixados'. Juros menores, por sua vez, impulsionam o preço dos títulos prefixados. Como pode ser visto no artigo, nosso 'Tesouro Prefixado 2017' apresentou exatamente esse comportamento.

Assim sendo, um investidor que adquire um 'Tesouro Prefixados' saberá de antemão a rentabilidade de seu investimento. Porém isso somente será verdade se ele mantiver o título até o vencimento. Se no meio do caminho ele resolver vender o título, estará sujeito às taxas de juros correntes, o que pode implicar em perdas ou ganhos.

Por fim, ao analisarmos o comportamento do 'Tesouro Prefixado 2017', demonstramos que as oscilações no preço de tais títulos são maiores quanto maior for o prazo para o vencimento. Os preços (e retornos) dos títulos com prazo de vencimento curto costumam oscilar menos que os.preços (e retornos) dos títulos com prazo de vencimento mais dilatados.

Rest in peace, dos 'Tesouro Prefixado 2017'!

Artigo escrito por Flávio Girão Guimarães.

* supondo que o investidor mantenha o título até o seu vencimento.